A Engenharia Genética
CANDEIAS, José Alberto Neves. A engenharia genética. Rev. Saúde Pública [online]. 1991, vol.25, n.1, pp. 3-10. ISSN 0034-8910.
“Falar de engenharia genética é caracterizar um conjunto de processos que permitem a manipulação do genoma de microrganismos vivos, com a conseqüente alteração das capacidades de cada espécie. Esta possibilidade de alteração das potencialidades genéticas dos organismos resultou da colaboração íntima e constante entre a chamada ciência básica e a ciência aplicada. Não que tal colaboração tenha sido programada com vistas a tornar realidade aquela intervenção.” (p.3)
“As técnicas de engenharia genética ou, mais corretamente, a tecnologia de ADN recombinante (ADNr), começaram a ser definidas no início do ano de 1970, com a utilização de vetores de clonagem, em geral, plasmídeos e genomas virais, lançando-se mãos das chamadas enzimas de restrição que permitiam cortar o ADN em pontos bem definidos, isolando-se assim fragmentos de ácido nucléico passíveis de serem introduzidos no genoma de um organismo com moléculas idênticas de ADN. É a chamada clonagem molecular, em que, numa primeira operação, repetimos, se procede ao corte da molécula do ácido nucléico e, numa segunda fase, à inserção do fragmento do ADN no ácido nucléico de uma célula hospedeira compatível.” (p.3)
“Os plasmídeos encontram-se em bactérias e em algumas leveduras e têm a capacidade de duplicarse autonomamente, possuindo, em geral, genes que lhes conferem resistência a antibióticos, como a ampicilina e a tetraciclina. São estes genes que permitem distinguir células hospedeiras que possuem o ADNr das células que não o possuem.” (p.4)
“Na tecnologia do ADNr a participação das enzimas ou endonucleases de restrição é da maior importância. Cada enzima possui um padrão específico de corte da molécula de ADN, do que resulta uma série de fragmentos genômicos que podem ser isolados, clonados e seqüenciados.” (p.4)
“Os elementos que formam os bancos genômicos são, como já referimos, clones de ADN do genoma de determinado organismo vivo, clones estes obtidos com vectores como, por exemplo, bacteriófagos, que aceitam inserções de grandes tamanhos. Estas inserções têm a vantagem de permitir a obtenção de todo o genoma em um número reduzido de clones, ou, por vezes, do gene intacto em um único clone.” (p.4)
“A identificação do clone pode ser feita por hibridização de sondas de ADN ou ARN marcadas radioativamente, com as bases complementares do clone, sendo a localização feita por autoradiografia.” (p.5)
“Depois que passamos a conhecer a configuração genética dos organismos vivos, pelo exame do seu ADN, foi-nos colocado à disposição um importante componente das técnicas de diagnóstico, quer este se dirija à identificação de doenças de fundo genético, quer ao desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico de doenças infecciosas, ou ao próprio diagnóstico laboratorial.” (p.6)
“A engenharia genética permite ainda produzir anticorpos monoclonais, mediante a clonagem em bactérias de genes capazes de fazerem sua codificação. Este tipo de anticorpos encontra importante aplicação no diagnóstico clínico, e na própria intervenção terapêutica.” (p.7)
“Confrontando-se os benefícios com os riscos que as técnicas do ADNr podem acarretar para a humanidade, não há como não aceitar que a controvérsia continuará envolvendo cientistas, educadores, políticos e o público em geral, sejam quais forem os argumentos apresentados. Do mesmo modo, continuarão as pesquisas no campo da engenharia genética, com benefícios reais para a humanidade e com riscos teóricos, que sempre podem, é claro, adquirir foros de realidade. Mas isto é próprio da natureza humana. Que os assuntos sobre que possa cair nossa reflexão a respeito desta controvérsia sejam ou não relevantes é questão sempre sujeita a discussão: uns preferirão argumentos a favor, a outros agradarão mais argumentos contrários.” (p.9)
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