O papel dos gestos no desenvolvimento da linguagem oral de crianças com desenvolvimento típico e crianças com síndrome de Down
FLABIANO-ALMEIDA, Fabíola Custódio e LIMONGI, Suelly Cecilia Olivan. O papel dos gestos no desenvolvimento da linguagem oral de crianças com desenvolvimento típico e crianças com síndrome de Down. Rev. soc. bras. fonoaudiol. [online]. 2010, vol.15, n.3, pp. 458-464. ISSN 1516-8034.
“Os gestos são definidos como ações produzidas para fins de
comunicação, geralmente realizados usando-se os dedos, mãos
e braços, mas podendo também incluir movimentos faciais
e corporais. Tradicionalmente, os gestos são divididos em .
duas categorias: dêiticos e representativos.” (p.458)
“Os dêiticos seriam aqueles utilizados para estabelecer um referencial, indicando
um objeto ou evento e, portanto, sua interpretação depende
do contexto em que é realizado. Já os gestos representativos
apresentam conteúdo semântico específico. Tais gestos podem
se referir a objetos, significando alguma de suas características (gestos simbólicos), como por exemplo, o gesto de abrir e fechar a mão em frente à boca (comer), ou ser definidos culturalmente (gestos convencionais), como por exemplo,
os gestos de dar tchau e de mandar beijo, em que não há um
objeto ou ação específica a ser representada.” (p.458)
“Nas últimas décadas, muitos estudos têm investigado o valor preditivo dos gestos, tanto em relação aos aspectos lexicais quanto em relação aos aspectos sintáticos da linguagem. As evidências têm mostrado que os gestos funcionam não apenas como elemento de transição entre as ações motoras e a linguagem oral, mas também como facilitador do processo de produção da fala, fornecendo à criança, nos estágios iniciais do desenvolvimento da linguagem, recursos cognitivos extras, que permitem representar e comunicar ideias mais complexas, enquanto ainda não conseguem fazê-lo exclusivamente por meio da fala.” (p.459)
“A relação entre o uso de gestos e o desenvolvimento lexical tem sido amplamente estudada. Pesquisas recentes têm demonstrado que os gestos não apenas precedem, mas também são preditivos do vocabulário, tanto expressivo quanto receptivo, em crianças com DT.Estudo anterior demonstrou que os itens encontrados inicialmente no repertório gestual de crianças com DT foram observados em seu vocabulário expressivo três meses após terem sido observados em forma de gestos.” (p.459)
“Muitos estudos têm sugerido que as crianças com SD apresentam preferência pelo meio comunicativo gestual ao meio verbal em função das dificuldades na linguagem
oral, especialmente em relação aos aspectos fonológicos e morfossintáticos.” (p.459)
“...as crianças com SD parecem apresentar alguma dificuldade específica no processo de transição das combinações de gesto e palavra para as combinações de duas palavras, especialmente em relação às combinações suplementares, as quais são consideradas preditores confiáveis das primeiras combinações de duas ou mais palavras.” (p.561)
“Uma possível explicação é a de que a emergência das combinações de duas palavras não apenas requer a habilidade cognitiva de combinar dois elementos semânticos, mas depende também de habilidades linguísticas adicionais que podem estar atrasadas ou comprometidas nas crianças com SD . Se essas habilidades linguísticas forem apenas atrasadas, o intervalo entre o início das combinações suplementares de gesto e palavra e o início da produção de combinações de duas palavras seria apenas mais longo, ou seja, as crianças com SD precisariam de um período de tempo maior para
desenvolver tais habilidades linguísticas específicas.” (p.561)
“Em relação à criança com SD, a literatura aponta que essas crianças geralmente apresentam dificuldades para prestar atenção a estímulos externos, são menos interativas e menos responsivas e, consequentemente, menos engajadas em atividades de jogo e brincadeira com seus pais.” (p.561)
“A revisão de literatura apresentada neste estudo mostrou grande variedade de achados relacionados ao papel dos gestos durante o processo de desenvolvimento da linguagem oral. De maneira geral, os resultados sugerem que, por meio dos gestos, a criança tem a oportunidade de se referir a objetos cujos nomes ainda não consegue expressar verbalmente e de praticar a construção de estruturas sintáticas mais complexas, enquanto ainda não consegue expressá-las inteiramente por meio da fala.” (p.562)
“Além disso, as dificuldades de manter a atenção em atividades compartilhadas e a produção de gestos de forma breve e confusa relatadas em crianças com SD, associadas a comportamentos menos sensíveis e responsivos de seus pais, também podem contribuir para as dificuldades de expressão verbal dessas crianças, visto que interferem no recebimento do input adequado e favorável ao desenvolvimento da linguagem oral.” (p.563)
Nenhum comentário:
Postar um comentário